No TikTok, alega-se que substituir o jantar por um batido de banana, maçã e chia faz perder gordura abdominal. No vídeo diz-se que o suposto benefício desta bebida deve-se às características dos alimentos que a compõem.

Segundo o autor do vídeo, a maçã e a banana são úteis para quem quer emagrecer, porque são ricas “em fibras”, por isso, controlam o apetite e aumentam “a saciedade”. Em relação à chia, além de alegar que tem um efeito positivo na saciedade, também diz que esta semente ajuda “na queima de gordura na região abdominal”. Mas será este batido realmente eficaz?

Trocar o jantar por um batido com banana, maçã e chia faz perder gordura abdominal?

Em esclarecimentos ao Viral, a nutricionista Inês Mazagão adianta que é falso que substituir o jantar por uma bebida de banana, maçã e chia, por si só, faça perder gordura abdominal. 

Aliás, a nutricionista salienta que não há nenhum alimento ou bebida que, por si só faça “perder gordura localizada”, ou seja, não se pode “escolher” se “perdemos gordura só nos braços, ou nas pernas, ou na zona abdominal”. Isto porque a  perda de gordura acontece “de forma global”, frisa.

E, acrescenta, “considerando a percentagem total de gordura” que uma pessoa tem, “conseguimos a redução da percentagem de gordura corporal através da perda de peso e massa gorda, em conjunto com a prática de exercício físico”. 

Em relação à bebida em si, na perspetiva de Inês Mazagão, esta não é “uma opção saudável para substituir o jantar”.

A nutricionista explica que, “tendo em conta a grande parte da população, o jantar constitui uma refeição importante, sendo uma das três refeições principais”. Além disso, em muitos casos, é “a última refeição do dia” e “um dos momentos do dia com maior ingestão proteica”.

Para mais, destaca, “um bom aporte de proteína ao jantar é importante para a manutenção da massa muscular e para evitar o catabolismo proteico durante a noite”.


No entanto, nesta bebida, há apenas “hidratos de carbono” – da fruta – “e um pouco de chia”. Portanto, “não há gordura, nem proteína”. Assim, na visão de Inês Mazagão, não faz sentido recorrer a esta solução como substituto do jantar.

De facto, a troca do jantar por este batido poderia ajudar a, “de alguma forma, alcançar um défice calórico”. Mas, seria apenas porque, em vez de se consumir “uma refeição de 300, 400 ou 500 calorias”, ingerir-se-ia um jantar com “200 e poucas” calorias.

Mesmo assim, “só olhando para essa refeição, não se sabe se a pessoa conseguiria estar em défice calórico”, uma vez que não se tem conhecimento do que foi ingerido nas refeições anteriores. 

Esta bebida promove a saciedade como se alega no TikTok partilhado?

Esta receita não é assim tão eficaz em termos de saciedade, sobretudo por não requerer mastigação. “É diferente comer uma laranja ou beber uma laranja, porque leva-se muito mais tempo a comer do que a beber”, exemplifica Inês Mazagão.

E, acrescenta, “o processo digestivo, por si só, também tem uma comunicação ao nível do cérebro, que também vai programar a nossa saciedade e indicar-nos se já podemos cessar a refeição”.


Além disso, por norma, “a saciedade até tem mais que ver com a proteína e com a gordura”. Isto porque “a proteína e a gordura atrasam o esvaziamento gástrico, fazendo com que a comida fique mais tempo no estômago”, promovendo, assim, a saciedade.

Neste caso, “a banana e a maçã – em forma de sumo – promovem a absorção rápida dos açúcares no sangue, ou seja a elevação da glicemia, o que acompanha posteriormente a sua descida”. Este pico glicémico – “que rapidamente sobe e desce – é preditor da fome e pode promover uma maior ingestão alimentar na refeição seguinte”, esclarece.

Por outro lado, a chia, de facto, “pode atrasar um pouco o esvaziamento gástrico, mas não se compara a uma refeição de vegetais com um bife”, exemplifica a nutricionista.


Existem consequências negativas em seguir este tipo de prática?

Consumir todos os dias, ao jantar, um batido de maçã, banana e chia “não uma prática sustentável a longo prazo” e, para Inês Mazagão, “a frustração que a pessoa vai sentir” é a consequência mais relevante.

Porquê? “Não é apenas por uma refeição que a pessoa vai conseguir o corpo que quer”, justifica a nutricionista.

A perda de gordura geral depende de vários fatores, tais como: “todas as refeições” que a pessoa ingere, “se dorme bem ou não”, “se faz exercício físico”, o “nível de stress percebido”, “a qualidade das relações interpessoais” e “o que faz no trabalho”.

Portanto, na perspetiva da nutricionista, “as pessoas têm de se convencer que não há uma solução simples para coisas complicadas” e “não é por se beber um batido de fruta com a chia que se vai perder gordura”.


Então, como se pode perder gordura? Como explica Inês Mazagão, “a pessoa tem de se organizar e, com o apoio de um nutricionista, montar uma dieta para o seu estilo de vida, os seus objetivos e as suas preferências”.

Além disso, deve ser avaliado, “em termos clínicos”, “o que fará mais sentido para aquela pessoa”. Tendo sempre em conta que “a dieta escolhida deve ser personalizada, de modo que ela não se aborreça e se frustre”, reforça.

Isto porque “a comida não é só comer, a comida é um ato social, um ato de partilha”, defende a nutricionista.

Do ponto de vista de Inês Mazagão, é importante que se deixe de ver a comida apenas como um medicamento. “A comida é comida, o medicamento é um medicamento”. 

A nutricionista acredita que “para as pessoas serem felizes precisam de se alimentar bem”. Aliás, não é por acaso que “a alimentação e a nutrição são consideradas, pela Organização Mundial da Saúde, pilares essenciais para a manutenção de um bom estado de saúde, em conjunto com o sono e com o exercício físico”, conclui.